sábado, 21 de agosto de 2010

O amor é quando dois corpos, dois velhos corpos, madurados pelo tempo, beijam um ao outro, o mesmo beijo jovem, há décadas. O amor é a largueza do espírito, testado, vivido, que ainda guarda os sintomas da meninice, os rubores da infância. O amor é quando você pula amarelinha, aos cinco, aos dez, e aos oitenta. O amor não tem fronteiras; de tempo, de modo, e de intenções. Guarda-se virgem, como um padre, mas se avizinha com o profano. O amor cabe na palma da mão; ou no espaço curvo do universo. Sorri o último sorriso, como se fosse o primeiro! O amor não se esquece das meias, acarinha o neto; toma de assalto, uma mágoa, uma ofensa, depois chora escondidinho. O amor não renasce, o amor colhe. O amor tropeça na pedra do caminho, retira a pedra, e depois volta com ela, só pra não ferir a paisagem! E para não ofender o rito. Faz seu cocar, com as penas da muda, não maltrata o passarinho - embora brinque de estilingue. É mesmo contraditório e confunde, o amor. É mesmo soberano, e triunfa. Chega, exausto, ao limite da estrada, e não pede carona. Só pelo prazer de andar mais um pouquinho. Nenhum amor se contenta com barulho. Nenhum amor só opera com silêncio. O amor é de muitas, muitas perguntas, e muito poucas respostas. É nu, porque precisa de banho, cheira a talco, e sabe ser prudente. Olha a gente do fundo da dor, e da profundidade do riso. Dorme num fundo de armário, quando não pode estar presente, e acena na foto, que é lembrada na estante. O amor geralmente tem: cristaleira, cuidado, carinho, cabelos brancos (que pinta quando é vaidoso). Prepara o Natal, o domingo, o feriado; mas todo dia se arruma porque, se não me engano, o amor acorda cedo. Toma o sol da tardinha, conversa com os vizinhos, compra pão, tem muita história pra contar. O amor nem sempre acerta porque não aprendeu tudo. Mas já viveu quase, já amou quase. O amor já amou, muito, e também já foi amado.

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